canção medrosa
Na noite lívida, o Medo
Vem bater à minha porta,
Como um segredo
Da Esfinge morta.
Anda a rondar nas estradas,
Nas brancas encruzilhadas;
Nos sombrios pinheirais,
Onde o vento
Violento,
Há mil sombras murmurando,
Torvas de gestos, dançando
Ermas danças espectrais!
E todo se exalta e alegra!
Doido, ri na noite negra,
E, doido, esboça,
Quando cinge,
N'um desejo mais aceso
Que uma estrela,
Alma sozinha que passa...
E, de súbito, congela,
Sob o peso
Dos teus olhos, muda esfinge!
....
Teixeira de Pascoaes
foto | Serralves | junho'17
texto | in " A Poesia de Teixeira de Pascoaes" de Jorge de Sena - Brasília Editora | 1982