as janelas
Quem olhe de fora por uma janela aberta nunca vê tantas coisas como quem olha uma janela fechada. Não há coisa mais profunda, misteriosa, fecunda, tenebrosa, perturbante, que uma janela iluminada por uma vela. Quanto se possa ver à luz do sol sempre será de menor interesse que quanto decorra atrás de uma vidraça. Dentro desse buraco escuro ou luminoso, a vida vive, a vida sonha, a vida sofre. Para além das vagas de telhados, distingo uma mulher madura, já com rugas,claustros convento graça lisboato-me, orgulhoso de ter vivido e sofrido em outros que não eu.
Dir-me-eis talvez: «Tens a certeza de que a lenda é verdadeira?» Que importa o que seja a realidade colocada fora de mim, se ela me ajudou a viver, a sentir que sou e o que sou?
Charles Baudelaire
foto | Torre de Moncorvo'17 | agosto'17