abriu a caça
Brinquedos de Natal
Natal. Natal das crianças? Parece que sim, embora não de todas. Não, decerto, daquelas para quem nunca é Natal.
(...) Os garotos são particularmente sensíveis à publicidade na TV, que desfrutam com avidez como se fosse um programa infantil. São seduzidos pela vivacidade, pela força da penetração, pela originalidade. São o mais atento público dos publicitários.
(...) Está aberta a caça ao garoto que será também consumidor. Estão lançados os engodos em nossa própria casa, diante dos pais que hão-de inquietar-se por força, se não forem de todo cegos, surdos ou tolos. É a lei do Natal. Com um toque de mágica, transforma os nossos filhos em mercado aberto. Em objectivo apetitoso para a óptica do marketing.
O pior é que os miúdos não se sabem defender. Acreditam mesmo nas palavras e nas imagens dos publicitários, esses exagerados. Entregam-se sem reservas ao ingénuo desejo de terem o brinquedo que a televisão todos os dias lhes acena diante dos olhos. Não se dão conta de que a minipista tem um preço que os pais terão de pagar, se puderem. E não sabem que os pais não vão poder. São mesmo induzidos a pedir, a choramingar, a tentarem o que podem para verem transformado o sonho em verdade. Quer dizer: são mesmo arrastados a funcionarem como pequeninos carrascos dos pais que não têm dinheiro. Porque os obrigam à involuntária crueldade de recusar. E porque recebem o vírus do desapreço pelo brinquedo mais modesto que esse, sim, foi possível, mas já não é desejado. Porque não apareceu na grande montra que é a TV. Porque não saltou do mundo da Televisão para as mãos miúdas que, cá fora, foram ensinadas a cobiçar o mais caro.
Correia da Fonseca, in república
♥ FOTO | Guimarães | dezembro'16 ♥