a olhar, a olhar, no além
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Ó desmaiados
Sonhos dispersos, vibrações anímicas;
Ondulações de névoa e de penumbra;
Rumores de luar, confusas vozes,
Remota claridade que se alumbra...
Ermas visões, fantasmas solitários;
Espectros de arvoredos e de estrelas,
De horizontes, de mares, de Calvários,
De pedras mortas e criaturas mortas!
Ó fumos espectrais que a Natureza,
Como um incêndio, exala no Infinito,
Trespassais o meu corpo de tristeza,
De alto mistério e perturbante enigma!
E sinto-me a afogar num mar de névoa...
E fico assim, a olhar, a olhar, no Além...
Através deste sol amanhecido,
A Penumbra ancestral, a Noite mãe!
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foto | Praia d'el rey | abril17
texto | in " A Poesia de Teixeira de Pascoaes" de Jorge de Sena - Brasília Editora | 1982